Leslie Leitão: “O incrível erro do Gepe, a melhor unidade da PM do Rio”

O Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) foi criado em 1991, quando as torcidas organizadas começaram a tornar praticamente impossível de um ‘torcedor comum’ (povão, no jargão deles) ir a um jogo de futebol no Rio de Janeiro. Sucateado e sem ter sido dada a ele a importância devida, o órgão foi enterrado quatro anos mais tarde. Esse período caótico de brigas de torcidas fora e dentro dos estádios – de arrastões nas arquibancadas – no entanto, serviu de aprendizado. Quando foi reativado, em 2002, o Gepe voltou mais forte, mais estruturado e melhor preparado para a função. Seus policiais passaram a fazer treinamentos e cursos específicos para o trabalho que seria desenvolvido. Os policiais passaram a conhecer os líderes das torcidas e os principais brigões pelo nome e pelo rosto.

Ano a ano o Gepe foi se aperfeiçoando. Ouso dizer que a unidade se tornou a mais eficaz de toda a polícia militar do Rio de Janeiro. Há alguns bons anos, mais de uma década, seguramente, as confusões generalizadas acabaram. E raras foram as vezes em que os bandidos das torcidas organizadas da cidade conseguiram se enfrentar nas ruas próximas ao estádio. Na última, durante o Carioca, no Engenhão, um criminoso rubro-negro matou, com um espeto de churrasco, um botafoguense que tentava cometer um crime também. Guerra de bandidos que o Gepe (numa greve meio velada, como quase toda a PM) não evitou. Dentro dos estádios, lembro de um confronto ano passado com a torcida do Corinthians, em que alguns polícias foram espancados, mas a missão foi cumprida, evitando que as duas torcidas se enfrentassem.

Dentre as muitas medidas adotadas pelo Gepe está o poder da punição sumária. O comando decide punir a torcida que arruma confusão e está definido. Não pode bumbo, não pode bandeira, não pode camisa e acabou. Não tem debate. Todos se adaptaram a isso. Algumas torcidas praticamente acabaram. Tem apenas focos, nem sombra do que eram antigamente, nos idos dos anos 90, quando Jovem Fla, Young Flu, Força Jovem e TJB, mais especificamente, guerreavam dentro e fora dos estádios, não só de futebol, mas de basquete e vôlei.

Atualmente – já há alguns anos – as guerras se espalharam. Núcleos dessas torcidas chegam a marcar confrontos pela internet e quase todos ocorrem bem longe do local do jogo. À exceção do último Flamengo x Botafogo do espeto de churrasco já citado, a escolta do Gepe se mostrou eficaz e obrigou esses bandidos a tentarem se matar em outro lugar. Zona Leste, São Gonçalo, Baixada, enfim, horas antes do jogo sempre ocorre algum confronto criminoso. Mas, em geral, dentro do Maracanã (palco principal) e arredores, não há incidentes generalizados.

A culpa de um crime é sempre do delinquente. Sempre! Mas cabe à polícia, neste caso a PM, tomar as medidas necessárias de segurança para que se evite a delinquência. Como citei acima isso vem sendo feito. São Januário, em julho deste ano, pelo Brasileiro, é um exemplo disso. Ali, em meio ao caos, a atuação da PM dentro do estádio não foi ideal, mas no fim das contas foi ela que evitou uma tragédia ainda maior. Cercou os rubro-negros que queriam briga (90% dos que foram), os escoltou até o estádio e os manteve durante mais de duas horas presos, até que do de fora as coisas se acalmassem ao final dos 90 minutos. Se o Gepe não tivesse utilizado as bombas de gás e de borracha para evitar a invasão de campo dos vascaínos que atiravam bombas dentro do campo, teríamos uma batalha campal como várias já vistas décadas atrás, inclusive no mesmo histórico estádio do Vasco em um jogo contra o Santos, em setembro de 1994, deixando mais de uma dezena de feridos. Naquele dia a PM evitou o que vimos no Couto Pereira em 2009, no rebaixamento do Coritiba contra o Fluminense, e em Joinville, na batalha entre vascaínos e torcedores do Atlético-PR, em 2013. Fora do estádio, os confrontos terminaram na morte de um torcedor, atingido por um disparo de um policial acuado. Outros três ficaram feridos a bala.

Na última quarta-feira os erros do Gepe foram banais. Praticamente toda a confusão – planejada e divulgada por bandidos nas redes sociais – só ocorreu em virtude da desorganização da PM. Três dias antes já havia uma convocação para invasão do estádio. Havia também uma convocação para fazerem baderna na porta do hotel do Independiente na véspera da partida. E ninguém fez nada. Esperaram o pior acontecer. Tanto na noite anterior quanto no dia do jogo. O mais grave é que nem a confusão da véspera ligou o alerta da PM para o clima hostil que havia sido criado.

A PM não isolou o estádio para que só quem tivesse ingresso conseguisse acessar determinado perímetro, algo normal em qualquer país do mundo – inclusive na Argentina – e como foi feito nas Copas das confederações e do Mundo, quando milhares de black blocs (com seus coquetéis molotov) protestavam mas não conseguiam se aproximar do Maracanã em virtude da atuação do Batalhão de Choque. Como os ingressos da final estavam todos vendidos desde a semana anterior, bastava o Gepe informar, através da imprensa e das redes sociais, que só acessaria as ruas de acesso ao estádio quem estivesse com o comprovante de compra do ingresso nas mãos. Não há mistério. Não tem desculpa. A PM atuou dentro do estádio, junto com a segurança privada do jogo, e assim não houve invasão de setor, não houve invasão de campo, não houve confronto de torcidas e nem rojões foram atirados em campo. Fora, falhou e desencadeou a invasão do Maracanã, como já havia ocorrido, em menor proporção, na final da Copa do Brasil contra o Cruzeiro.

Ladrões que saquearam bares – e bandidos que agrediram quem estivesse na frente e quebraram cadeiras e outros itens do estádio – são integrantes de uma sociedade que tem falhas graves de educação e de caráter. De uma sociedade que saqueia caminhão roubado quando chega na favela ou quando tomba na estrada. Isso não é algo restrito ao futebol, muito menos à torcida do Flamengo especificamente. Mas, como esses ladrões e vândalos torcem para o Flamengo, o clube tem que pagar essa conta.

Em 2010, as emendas aprovadas no Congresso Nacional ao Estatuto do Torcedor (Lei 10.617) falam em “criminalização de determinadas condutas violentas nos estádios”. O novo artigo 41, alínea b, diz que “quem promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos será punido com pena de reclusão de um a dois anos. Na mesma pena incorrerá o torcedor que cometer estes crimes em um raio de 5 km ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do evento esportivo, assim como quem portar, deter ou transportar no interior do estádio, e suas imediações ou no seu trajeto, quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de violência”. Ou seja, um raio de 5 km, no caso do Maracanã, implica consequências por atos praticados na Praça Sañs Peña, na Lapa, ou no Grajaú. Mas com responsabilizar o clube por isso?

Clubes de futebol não são punidos pelas atitudes violentas de seus torcedores quando elas em nada interferem no campo de jogo. Já passou da hora de isso mudar. Mas como fazer a dosagem disso? Quais punições serão aplicadas ao poder público que deixa o caos se instalar através de seus erros? Os clubes vão pagar essa conta sozinhos?

Fonte: Leslie Leitão/Fera rubro-negra

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